De acordo com Rodrigo Balassiano, os FIDCs representam uma importante alternativa de captação de recursos e diversificação de investimentos no mercado brasileiro. Contudo, sua estrutura pode envolver complexas relações contratuais, múltiplos cedentes e devedores, e operações transnacionais, o que impõe desafios significativos do ponto de vista fiscal. A gestão eficiente desses fundos exige atenção redobrada quanto às obrigações tributárias, especialmente quando envolvem diferentes jurisdições fiscais, tanto no Brasil quanto no exterior.
Como o ambiente regulatório afeta a tributação dos FIDCs?
A regulação dos FIDCs é feita principalmente pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), mas os aspectos tributários são regidos por normas da Receita Federal e leis estaduais. Isso cria um ambiente multifacetado, onde a interpretação da natureza jurídica das operações do fundo pode variar. Por exemplo, a caracterização dos recebíveis e sua cessão impactam diretamente na incidência de tributos como o IOF, o IRPJ e a CSLL, que podem ou não recair sobre os rendimentos do fundo.
Rodrigo Balassiano também explica que alterações frequentes nas normas fiscais e a falta de uniformidade nas decisões administrativas e judiciais aumentam a insegurança jurídica. Investidores e gestores precisam estar atentos às atualizações e jurisprudência para evitar autuações. O desconhecimento ou a má interpretação das regras pode resultar em passivos fiscais significativos para o fundo ou para seus cotistas.
Quais são os principais riscos tributários em operações internacionais?
Quando os FIDCs operam com ativos oriundos de outras jurisdições, entram em cena regras de preços de transferência, convenções para evitar a bitributação e a necessidade de comprovação da substância econômica das operações. A depender da estrutura, pode haver questionamentos sobre a real residência fiscal das partes envolvidas e da existência de planejamento tributário agressivo. Essas situações exigem documentação robusta e planejamento cuidadoso.

Ademais, o uso de veículos internacionais,como offshores e holdings, para estruturar investimentos ou repasses de direitos creditórios pode ser mal interpretado pelas autoridades fiscais. Rodrigo Balassiano evidencia que países com legislações mais rígidas contra evasão fiscal impõem obrigações adicionais de transparência, como a divulgação de beneficiários finais e a aplicação de regras de CFC (Controlled Foreign Corporation), o que pode impactar a rentabilidade líquida do fundo.
Como o planejamento tributário pode mitigar esses desafios?
O planejamento tributário eficaz começa com a escolha correta da estrutura jurídica e contratual do FIDC, considerando os impactos tributários em todas as esferas — municipal, estadual, federal e internacional. A definição clara dos fluxos financeiros, a qualificação dos rendimentos e a correta alocação de receitas e despesas são essenciais para evitar litígios e garantir eficiência fiscal.
Outra ferramenta essencial é o compliance fiscal integrado, com a adoção de controles internos, auditorias recorrentes e relatórios transparentes. A atuação conjunta de advogados tributaristas, contadores e administradores fiduciários permite a identificação prévia de riscos e a adequação às boas práticas de governança. Segundo Rodrigo Balassiano, o uso de tecnologia para monitorar operações e automatizar obrigações acessórias também contribui para a conformidade do fundo.
Gestão fiscal como diferencial competitivo
Em um cenário cada vez mais regulado e globalizado, a gestão fiscal dos FIDCs deixou de ser apenas uma obrigação legal para se tornar um diferencial competitivo. Investidores buscam segurança e previsibilidade, e fundos com estrutura tributária sólida tendem a atrair maior volume de recursos. Por isso, o planejamento tributário sob múltiplas jurisdições exige conhecimento técnico e visão estratégica. Com uma abordagem proativa e multidisciplinar, é possível transformar os desafios fiscais em oportunidades.
Autor: Antomines Tok