O depoimento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) provocou avaliações entre seus aliados, que consideraram o roteiro adotado pelo ex-mandatário como estranho e abaixo do esperado. A expectativa inicial era que Bolsonaro explorasse de forma contundente os pontos ligados ao plano de golpe para permanecer no poder, mas o foco acabou sendo voltado para aspectos administrativos de seu governo, o que causou frustração entre o grupo mais próximo ao ex-presidente. Esse episódio marcou um momento de incerteza política, com os bolsonaristas buscando agora formas de conter os danos causados por uma defesa considerada pouco clara.
Os bolsonaristas que acompanham de perto o julgamento avaliam que o ex-presidente deveria ter apresentado um depoimento mais estruturado, com começo, meio e fim, abordando diretamente as acusações e apresentando uma narrativa convincente sobre as medidas adotadas para tentar alterar o resultado eleitoral. Segundo esses interlocutores, Bolsonaro perdeu a chance de detalhar o contexto político que justificaria suas ações e ações que poderiam ser interpretadas como alternativas para proteger o país em um cenário de supostas fraudes eleitorais. A ausência desse roteiro claro foi considerada estranha e uma falha na estratégia de defesa.
Além disso, a fala de Bolsonaro incluiu elogios ao seu governo, ressaltando conquistas como a ampliação do acesso à água no Nordeste e a formação de um ministério técnico. No entanto, esses pontos não foram suficientes para desviar a atenção das acusações mais graves. A defesa do ex-presidente tentou usar o que chamam de “vertical jurídica” para rebater os argumentos da acusação, mas faltou o chamado “verniz da comunicação”, ou seja, um discurso com apelo político que pudesse influenciar a opinião pública e fortalecer a imagem de Bolsonaro diante dos fatos apresentados.
Um dos momentos mais delicados do depoimento foi o confronto entre a defesa de Bolsonaro e o ex-ajudante de ordens Mauro Cid. A equipe de defesa questionou Cid sobre a existência de um aparelho celular supostamente ocultado da Polícia Federal e sobre um perfil nas redes sociais vinculado à esposa do ex-ajudante. As suspeitas indicam que, mesmo sob restrições, Mauro Cid teria tentado manter contato com investigados e vazado informações sigilosas, o que pode complicar ainda mais a situação da defesa.
Outro ponto polêmico levantado pela defesa foi a origem do dinheiro supostamente repassado por Valter Braga Netto, ex-ministro da Defesa, a Mauro Cid para financiar o plano de golpe. Enquanto Mauro Cid confirma o repasse, Braga Netto nega qualquer envolvimento. Essa divergência amplia o quadro de tensão política e jurídica envolvendo figuras-chave do governo Bolsonaro, mantendo o caso sob intensa vigilância da mídia e da opinião pública.
Apesar das críticas ao depoimento, os aliados do ex-presidente avaliam que o resultado final ficou no “zero a zero”, pois Bolsonaro não se saiu derrotado, mas também não conseguiu demonstrar uma defesa contundente. Essa percepção levou o grupo a iniciar uma estratégia de contenção de danos, preparando-se para enfrentar os próximos desdobramentos do processo judicial, incluindo a possível prisão do ex-presidente ao final do julgamento.
O cenário político atual impõe desafios significativos aos bolsonaristas, que veem o processo no STF como uma batalha decisiva para o futuro do ex-presidente e de sua base política. A avaliação de que o roteiro adotado por Bolsonaro foi estranho reflete a insatisfação com o desempenho no tribunal, levando à necessidade de reavaliar as próximas etapas de defesa e comunicação. Esse momento será crucial para definir o desfecho do caso e o impacto político para Bolsonaro e seus apoiadores.
Em resumo, o depoimento de Bolsonaro no STF deixou uma marca de incerteza e frustração para seus aliados, que classificam o roteiro como estranho e insuficiente diante das acusações. A busca agora é por medidas que possam conter os danos políticos e jurídicos que podem advir desse processo, enquanto o ex-presidente enfrenta um cenário delicado que pode definir seu futuro imediato. O desenrolar desse caso permanece entre os temas mais relevantes da política nacional e continuará sendo acompanhado de perto nos próximos meses.
Autor: Antomines Tok