Depois de ser tema central de uma nota pública cheia de acusações sobre as fragilidades internas do Partido dos Trabalhadores (PT) de Alagoas, assinada pelo deputado estadual Ronaldo Medeiros (PT), o deputado federal Paulão (PT) diz ter sido pego de surpresa e contra-ataca com mais acusações e questionamentos sobre a atuação do colega de partido.
Em contato com a reportagem da Tribuna Independente, o deputado federal trouxe à tona uma série de fatos, relacionados ao deputado estadual, e destacou que não tem qualquer ingerência na executiva estadual do PT, e que tem todo o direito de se lançar pré-candidato ao Senado em 2026.
“Ele [Ronaldo Medeiros] não agiu com inteligência emocional ao ser provocado por um deputado de extrema-direita. Que ele fizesse uma nota como fez, mas usar a tribuna da Assembleia Legislativa do Estado [ALE] para um debate desse? Como é que ele levanta esse tema em um momento como esse? Como é que faz uma fala dessa? Uma nota dessa desarma um pouco partido, é um embate entre duas lideranças. Aí eu pergunto se um debate desse ajuda a fortalecer a candidatura do Ricardo Barbosa? [à Prefeitura de Maceió] Claro que não, pessoal! Eu acho estranho esse debate nesse momento. Eu fiz declaração política, não fiz ataques pessoais. Adjetivos eu não usei na entrevista [ao portal Cada Minuto na última semana], eu levantei pontos”, disse o parlamentar.
No cenário atual, o PT mantém a pré-candidatura do ex-vereador Ricardo Barbosa ao cargo de prefeito de Maceió. Nos bastidores, há uma investida do MDB, presidido pelo senador Renan Calheiros, para que o partido indique o vice na chapa liderada pelo deputado federal Rafael Brito (MDB), no entanto, não se chegou a um consenso entre as legendas sobre essa condição.
Hoje, o PT pretende seguir com a candidatura própria, mas, nos bastidores já sinalizam que pode haver uma composição caso a eleição na capital alagoana seja levada para um segundo turno, pois o atual contexto político está favorável ao prefeito JHC (PL), que vai à reeleição.
‘FIDELIDADE AO PT’
Paulão fez questão de lembrar as vezes que Ronaldo Medeiros deixou a legenda, inclusive no golpe de 2016, levantando suspeitas sobre o seu compromisso com o partido.
“Eu nunca abandonei o partido no momento que o PT precisava, porque eu não abandono amigos. Tenho uma história de luta dentro do PT de respeito e de fidelidade à legenda e aos companheiros do partido. Não fui eu quem abandonou o barco, quando mais o PT precisava dos seus para sustentar o legado em defesa dos governos Lula e Dilma e da própria democracia”, rebateu Paulão ao lembrar que Medeiros deixou o PT e se filiou ao MDB, que à época, governava Alagoas com Renan Filho.
Negando as acusações, Paulão acusa Medeiros de ser ele o que não respeita a democracia do partido.
“Primeiro, ele está fazendo uma ilação no que diz respeito à executiva do partido. Eu não faço nem parte da executiva. Eu já fui presidente, mas nem na executiva eu faço parte. Pelo contrário, ele faz parte da executiva. Agora o que ocorre é que os debates são realizados, às vezes são consensuais. Quando não são consensuais o pessoal coloca em votação e alguns encaminhamentos que ele mesmo fez, ele perdeu. Democracia é maioria sobre minoria, ele tem muita dificuldade de ser contrariado quando a ideia dele não passa, e esse modelo não funciona no PT”.
Ainda sobre a democracia partidária, Paulão resgata momentos passados em que, na sua visão, o correligionário agiu sem ouvir o partido. “O PT orientou ao Ronaldo que não entrasse na Mesa Diretora da Assembleia Legislativa porque o PT nunca participou da Mesa Diretora. Eu fui deputado estadual, Heloísa Helena foi, e nunca a gente entrou em Mesa Diretora. Era líder de governo porque ele se ofereceu. Não foi o governador [Renan Filho] quem escolheu ele, foi ele que se ofereceu para ser líder. Não foi convidado nada, foi ele quem se ofereceu. E ele foi candidato a vice-governador com o Jurandir Boia sem passar pela discussão partidária, aí o conceito de democracia que ele quer falar comigo? Não tem nem sentido”.
“Medeiros retirou a candidatura”
Outra crítica que o deputado federal Paulão (PT), faz em direção ao deputado estadual Ronaldo Medeiros, diz respeito às eleições deste ano, sobretudo por conta da candidatura à Prefeitura de Maceió.
À Tribuna Independente, o parlamentar ressalta que Medeiros era o seu candidato em meio a outros nomes que estavam na mesa de debate.
“Na discussão interna do PT havia alguns nomes: o meu nome, o nome de Elida Miranda [hoje pré-candidata a vereadora], e o nome dele. Eu tive a compreensão que naquele momento ele deveria ser o candidato. Eu disse: ‘Ronaldo, meu candidato é você’. Ele ficou de agosto até janeiro sendo candidato, e de repente, sem justificativa plausível, ele retira a candidatura. Isso cria uma crise interna no partido, desarmou o partido”, relata o deputado federal.
Lamentando a exposição da disputa interna, Paulão fala que há outros interesses na atuação de Ronaldo Medeiros.
“O que está em jogo também é o projeto 2026. Tem forças estranhas fora do partido agindo dentro de uma parte do PT, essa é a questão de fundo, essa é que é a questão. É uma pena ter que falar sobre isso, mas da forma como os ataques vieram é fundamental deixar clara a situação. Nosso partido não pode sucumbir aos interesses pessoais de quem quer seja e aposta na divisão por alguma razão. Sou orgânico e cumpro as decisões do partido. Não tenho participação hoje na Executiva estadual ou municipal, mas é direito meu lançar o nome para qualquer cargo eletivo, para que, na hora certa, a direção convoque os fóruns deliberativos e decida se é ou não legítimo. Assim tem sido sempre”, finaliza o deputado.
ENTENDA A CRISE
Na última quinta-feira (20), Ronaldo Medeiros divulgou uma extensa nota que teve como o principal foco o deputado federal Paulão, que concedeu uma entrevista ao portal Cada Minuto. O deputado estadual rebateu Paulão em uma série de situações que ocorrem ou já aconteceram dentro do PT local, e estranhou ser tratado como adversário pelo deputado federal.
Sempre se referindo diretamente ao deputado federal, Ronaldo Medeiros lembrou que já se desfiliou do PT em outra oportunidade (se filiou ao MDB), devido à conduta de Paulão classificada como autoritária e centralizadora.
“Quando saí do PT foi pelas mesmas razões que os companheiros Judson Cabral e o finado Izac Jacson: a forma autoritária e centralizadora como o companheiro Paulão dirige o partido em Alagoas. Mesmo não sendo dirigente, é de seu gabinete que saem as decisões políticas adotadas pelo partido. Tudo bem que o parlamentar influencie os rumos do PT no estado, mas a tomada de decisão deve se dar nas instâncias coletivas”, disse.
Ronaldo Medeiros trouxe outro exemplo mostrando que o deputado federal está “queimando a largada”, ao divulgar amplamente que será candidato ao Senado em 2026.
“A melhor prova do que afirmo é a antecipação de sua pré-candidatura ao Senado para 2026, sem ao menos consultar sua própria tendência interna. Toda e qualquer candidatura majoritária, essencialmente, requer construção coletiva e planejada para que toda uma engrenagem política passe a funcionar em torno dela”, destaca.
Para Ronaldo Medeiros, o deputado federal deveria estar focado em investir politicamente na candidatura do ex-vereador Ricardo Barbosa (PT), à Prefeitura de Maceió. No entanto, segundo o deputado estadual, Paulão tem atropelado o partido e anunciando um rompimento com o governo Paulo Dantas (MDB), onde o PT tem espaços nas secretarias de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos e Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos.
“O foco do companheiro deveria ser a pré-campanha de Ricardo Barbosa à Prefeitura de Maceió. Mas Paulão prefere atropelar mais uma vez o partido ao anunciar rompimento com o governador Paulo Dantas, caso o PT tenha que abrir mão da disputa em Maceió para manter seus espaços no governo”, disse Medeiros.